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O Cérebro Eletrônico

 

 

 

 

 

                                                 1967

 

            Entramos numa fase de implantação  sistemas e o de Cobrança era a estrela com retorno importante para os resultados e melhoria do atendimento.

Esta era a mesa de controle do Gamma 30. Monitor nem pensar e teclado menos ainda. A introdução de letras e números era feita de forma binária. Eu e o Munia.

            Alguns aspectos são importantes observar no comportamento das chefias dos setores que teriam suas rotinas transferidas para processamento eletrônico de dados. A importância e o status dos comandantes tendia a reduzir-se e até quase desaparecer. Os donos do pedaço, conhecedores de rotinas também se sentiram ameaçados. Toda informação a respeito dos resultados, tabulações e andamento dos serviços era dada pela cúpula dominante de cada área ou setor. Mesmo o gerente geral perderia algumas prerrogativas pois os controles rápidos e precisos mostrariam alguns procedimentos não permitidos pelas instruções ou além dos parâmetros determinados pela DG.

         O gerente da Ag. Centro, felizmente era um homem voltado para o modernismo e via com satisfação o avanço da tecnologia e a melhoria de seus serviços. Idéias que ele tinha com relação ao melhor aproveitamento dos recursos financeiros somente poderiam ser implementadas com a agilidade e precisão no processamento da cobrança. Importante essa posição da Administração, caso contrário seria impossível iniciar a melhoria das rotinas do BB.

         A cobrança foi implantada e as rotinas eram executadas diariamente consumindo praticamente todo o dia do único computador instalado no sexto andar do prédio.

         Constantemente havia equívocos que obrigavam ao refazimento da rotina. Os erros mais comuns eram a colocação na massa de chamadas dos programas de parâmetros errados de datas ou condições ou a colocação de fitas indevidas relativas ao dia anterior. Nesta época fui designado para trabalhar na operação e como não conseguia ver procedimentos inseguros sem procurar introduzir medidas para evitar erros iniciei a criação de uma série de formulários para assegurar melhor controle das rotinas. Foi assim que através de tabelas de processamentos diários consegui deixar registrado a cada processamento as fitas de entrada e saída. As etiquetas nas fitas ficaram bem claras para definir seu conteúdo. Os cartões de parâmetros de data e outros foram mais bem analisados, alguns suprimidos e outros registrados com clareza sua forma de confecção. Propus que algumas paradas de programas fossem eliminadas e outras mais bem definidas no manual de operação. Observando o movimento das fitas magnéticas durante a execução do programa de cobranças propus que o processamento das rotinas de entrada e saída da cobrança fossem unificadas reduzindo pela metade o tempo de execução dessa fase do serviço. Ganhou-se diariamente uma hora e meia de processamento de computador além de melhorar a segurança da rotina. Isto tudo aconteceu em menos de um mês e depois, nada mais vendo para fazer, entrei numa rotina repetitiva desesperadora. Não era realmente minha especialidade executar serviço repetitivo que basicamente consistiam em ficar aguardando as rotinas começarem e terminarem.

         Foi assim que reivindiquei a chefia a minha volta à área de programação que estaria mais de acordo com o meu perfil e poderia realizar-me mais criando e produzindo. Creio que meu efetivo ar de desespero foi fundamental. Retornei ao paraíso.

         As dificuldades eram enormes na área de programação visto que os recursos eram escassos e a criatividade tinha que ser buscada na sua maior intensidade. Os programas nunca cabiam na memória do computador e rotinas tinham que ser re-escritas, reduzidas ao máximo e a segmentação era um recurso possível e complicado.

         Uma das dificuldades que tive referia-se à leitura da fita de papel de furo quadrado. A estrutura de cada registro de dados ocupava cerca de 25 caracteres. O registro era divido em campos separados por caracteres especiais bem definidos. Cada registro terminava também por caráter especial seguido de um espaço vazio (gap) separando-o do próximo registro. No momento da leitura havia após cada registro uma parada da fita de papel com um visual e um barulho muito desagradável. É claro que o tempo utilizado para ler toda uma fita aumentava substancialmente devido a esta dificuldade técnica.

         Para solucionar o problema havia necessidade de fazer todo o tratamento dos dados de cada registro no tempo em que o registro posterior estaria sendo lido no modo simultâneo. Isto porem era quase impossível, pois neste período de tempo algumas rotinas pesadas de programação deveriam ser executadas e consumiam o tempo de leitura de até dois registros. Uma das rotinas era a inversão de cada campo (cerca de 5) pois os mesmos vinham perfurados ao contrário.

Digamos que se o número fosse 12345, vinha perfurado 54321. A inversão de cada campo se fazia caráter a caráter. Por outro lado o número da conta também exigia uma rotina pesada de cálculo do dígito verificador.

            Foi quebrando a cabeça diariamente durante algum tempo que nasceu a solução para estas duas dificuldades; reescrever diversas rotinas com menos instruções e instruções potentes e por isso mais rápidas. Resolvido permitiu a satisfação de ver a fita de papel deslizar no equipamento de leitura sem qualquer interrupção. A primeira impressão é de que não estava sendo lida. Ambos os caminhos fundamentaram-se na instrução chamada de tradução de caráter (letras ou números). Esta instrução usando dos campos, um com uma tabela binária e outro com os caracteres a serem convertidos. A  tradução assim é posicional.

         A complexidade dos problemas desaconselha uma descrição deste método nesta mídia voltado para outro objetivo.

         Saibam, porém que a redução do tempo das rotinas de inversão de campos e de cálculo de dígito verificador foi assim como de 100 para 10.

         Nem bem começou o ano e já estávamos festejando, não lembro o que. O grupo abaixo é quase todo o pessoal que começou o processamento de dados no BB em São Paulo. A foto é de 03 de março de 1967, no restaurante A BRASILEIRA, esquina de São João com Anhangabaú.

03/03/1967 - Da esquerda para o fundo: José Joel Athayde, Masao Tanni, Azor, NI, NI. Na direita para o fundo: Eu, Dagoberto, Odair Prado de Oliveira, Luiz Antonio D’Elboux Couto e Afiune Jorge.

 

 

                                           

 

 

 

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